autor(a): Aimé Césaire

Uma tempestade


Explorando os efeitos da colonização sobre a cultura e identidade dos povos nativos, e também debatendo sobre as relações de poder e controle entre colonizador e colonizado, Aimé Césaire faz releitura da peça "A tempestade", de William Shakespeare.

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O livro

FICHA TÉCNICA

Gênero teatro
Formato 14 x 19 cm
Peso 150 g
ISBN 9786587243306

Uma tempestade propõe uma releitura feita a partir de A tempestade, de William Shakespeare, uma das últimas peças escritas pelo autor inglês, que trata de relações de legitimidade e usurpação. Na trama, Próspero, duque de Milão, é deposto por seu irmão, Antonio, e exilado em um navio com sua filha Miranda, que atraca em uma ilha com dois habitantes: Ariel e Calibã. Ariel havia sido preso por Sycorax, mãe de Calibã, e é liberto por Próspero, a quem então passa a dever sua gratidão. Já Calibã, que se considerava o dono da ilha, é escravizado por Próspero e se revolta com a situação.

Pelas entrelinhas de Uma tempestade

As reinterpretações latino-americanas desta peça têm explorado a dinâmica entre Próspero, o colonizador europeu, e seus auxiliares escravizados, Ariel e Calibã. Próspero, que foi usurpado de seu ducado, torna-se o usurpador da ilha que pertencia a Calibã: ele lhes ensina sua língua e acredita tê-los "civilizado". Ao adaptar a peça do dramaturgo elizabetano para um teatro negro, enfatiza-se que a peça deve ser interpretada por um elenco negro, sobretudo porque o autor martinicano adiciona à caracterização de Calibã como um escravo negro, e Ariel é retratado como um escravo negro de pele clara, referido como mulato no original.

O foco principal de Césaire nesta versão é o personagem de Calibã, a quem ele associa aos Panteras Negras norte-americanos. Em sua interpretação, o autor se indigna com a brutalidade e arrogância de Próspero, retratado como um homem indulgente, o que lhe pareceu refletir a típica mentalidade europeia. Sua proposta é apresentar uma nova perspectiva, a do colonizado, questionando a visão eurocêntrica da obra original. Ainda, Césaire explora os efeitos da colonização sobre a cultura e identidade dos povos nativos, além de debater sobre as relações de poder e controle entre colonizador e colonizado. 

Por dentro da edição da Temporal

  • Tradução inédita de Margarete Nascimento dos Santos
  • Prefácio de Eurídice Figueiredo
  • Fichas técnicas das apresentações
  • Sugestões de leitura
  • Fotografias da montagem de 2022 do American Shakespeare Center em Stauton, Virgínia, nos Estados Unidos
Shakespeare Center, de 2022. © Anna Kariel.

Considerando que Aimé Césaire escreveu seu teatro pensando em África, não se pode desprezar as marcas culturais africanas e afro-americanas, a concepção filosófica que o leva a enfatizar o poder criador da palavra, o contato direto com a terra, com a natureza, a força dos rituais, dos ritmos e das crenças religiosas, o peso das lembranças míticas.

— trecho do prefácio de "Uma tempestade" por Eurídice Figueiredo, p. 30

Sobre o autor

Aimé Césaire foi um poeta, dramaturgo, ensaísta, militante e líder político que, além de ter tido um papel fundamental na tomada de consciência dos atores políticos e culturais do anticolonialismo, tornou-se um dos escritores proeminentes do século 20. 

Césaire chega a Paris, em 1931, para ingressar em cursos preparatórios de entrada na renomada École Normale Supérieure. Nesse período, o escritor conhece Léopold Sédar Senghor, primeiro presidente do Senegal pós-independência, além de um dos grandes poetas de seu país. Juntos, Césaire e Senghor dão vida à revista L’étudiante noir, em que refletiam e elaboravam discussões acerca da negritude pelo viés literário e filosófico. Tempo depois, inicia sua carreira política, em 1945, como presidente da câmara e prefeito de Fort-de-France. 

Suas escritas para o teatro se iniciaram em 1946. Em todos os textos dramáticos que Césaire produziu, nota-se uma característica comum: a presença de um herói visionário, que faz referência a uma figura histórica relevante, em um ambiente de forte discurso político, com o intuito de despertar no leitor/espectador pensamento crítico.

Você já conhece "Uma temporada no Congo"?

Peça que marcou a estreia de Aimé Césaire no catálogo da Temporal, Uma temporada no Congo abarca cronologicamente os acontecimentos que se deram na República Democrática do Congo entre 1959 e 1961, retomando os eventos políticos da independência e da subsequente nomeação de Patrice Lumumba como primeiro-ministro, indo até o assassinato do líder congolês, que resistiu e lutou pela libertação de seu país.