autor(a): Oduvaldo Vianna Filho, Ferreira Gullar; organizador(a): Maria Silvia Betti; posfácio: Roberta Carbone

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come


"Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come", de 1966, tematiza os conflitos no campo, entre trabalhadores, proprietários e políticos locais, que se intensificaram sob o regime vigente após o golpe civil-militar em 1964. Lançando mão do humor e do sarcasmo, ela desenvolve uma apurada crítica social ao trabalhar os dilemas vividos pelo protagonista Roque, que, em sua luta diária pela vida, se vê pressionado a praticar atos que prejudicam seus semelhantes, assim como obrigado a driblar pessoas da elite econômica e política.

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O livro

FICHA TÉCNICA

Gênero teatro
Formato 14 x 19 cm
Peso 150 g
ISBN 9786587243313

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come (1966) é o terceiro espetáculo do grupo Opinião, com estreia no Teatro de Arena do Rio de Janeiro, em 9 de abril de 1966. A peça assume, mais do que os espetáculos anteriores – o show Opinião e Liberdade, liberdade –, o desafio de encontrar uma linguagem teatral que expressasse a opinião do grupo sobre o país após o golpe civil-militar de 1964, porém também conseguisse permear a censura ditatorial. Comédia farsesca escrita em versos de cordel, a peça é escrita em coautoria por Vianna e Ferreira Gullar, colegas no CPC da UNE no início da década de 1960.

A obra tematiza os conflitos no campo, entre trabalhadores, proprietários e políticos locais, que se intensificaram sob o novo regime. Lançando mão do humor e do sarcasmo, ela desenvolve uma apurada crítica social ao trabalhar os dilemas vividos pelo protagonista Roque, que, em sua luta diária pela vida, se vê pressionado a praticar atos que prejudicam seus semelhantes, assim como obrigado a driblar pessoas da elite econômica e política – como o coronel que o explora e os políticos que pretendem “usá-lo”. Ao representar as tensões entre os tipos sociais brasileiros do campo, a peça joga luz sobre a necessidade da reforma agrária, planejada pelo governo João Goulart, mas abortada pelo golpe. O título da obra, uma expressão popular, reflete a situação dos trabalhadores rurais: se enfrentam o sistema em busca de melhores condições de vida, devem também lidar com as ameaças e perseguições; se permanecem inertes, estão fadados a exploração.

Como na edição original, o texto integral da peça é acompanhado pelo texto O teatro, que bicho deve dar?, assinado coletivamente pelos integrantes do Opinião, uma sistematização dos debates internos do grupo, trazendo as razões políticas, artísticas e ideológicas pelas quais a peça foi escrita. O texto funciona como um manifesto e um programa de ação do grupo para aquele complexo contexto político-social do país. 


SOBRE A EDIÇÃO DA TEMPORAL


- Apresentação por Maria Sílvia Betti;

- O teatro, que bicho deve dar?, por Grupo Opinião;

- Posfácio por Roberta Carbone;

- Ficha técnica da estreia;

- Sugestões de leitura. 




Clássico da dramaturgia brasileira dos anos 1970 é lançado em nova edição 1

O autor Oduvaldo Vianna Filho


TRECHO EM DESTAQUE


Todos (Cantam)

                     Se corres, bicho te pega, amô.

                     Se ficas, ele te come.

                     Ai, que bicho será esse, amô?

                     Que tem braço e pé de homem?

                     Com a mão direita ele rouba, amô,

                     e com a esquerda ele entrega;

                     janeiro te dá trabalho, amô,

                     dezembro te desemprega;

                     de dia ele grita “avante”, amô,

                     de noite ele diz: “Não vá!”

                     Será esse bicho um homem, amô,

                     ou muitos homens será?


O AUTOR


Oduvaldo Vianna Filho nasceu no Rio de Janeiro em 1936, filho de um dramaturgo (Oduvaldo Vianna) e de uma radialista (Deocélia Vianna). Ligado à militância política comunista por influência de seus pais, cresceu em contato com quadros históricos do PCB (Partido Comunista Brasileiro). Ao ingressar no movimento estudantil, ainda na adolescência, organizou, juntamente com Gianfrancesco Guarnieri e outros companheiros, o Teatro Paulista do Estudante. Ao longo de sua carreira Vianna participou de frentes de trabalho fundamentais para a renovação da dramaturgia e do teatro como veículos de reflexões estéticas e políticas: o Teatro de Arena de São Paulo, o Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC), e o grupo Opinião, do Rio de Janeiro. No CPC seu trabalho teve crucial importância para a criação de um teatro político de rua, de que ele participou como dramaturgo e como ator.


Em 1964, com o golpe e a implantação do regime autoritário, a perseguição política tornou impossível a continuidade do projeto cultural que ali se desenvolvia, e a prioridade artística e política de Vianna, dentro dessa nova e difícil conjuntura, passa a ser a resistência ao golpe, entendida como primeiro passo para a luta contra o autoritarismo.


Em 1968, com o Ato Institucional número 5, é implantada a censura prévia aos meios de comunicação, e acirra-se a repressão a todos os que se ligassem à militância e à arte de esquerda. A necessidade de trabalhar e o desejo de atingir outras faixas de público levam Vianna a estreitar seus laços com a televisão, já que todas as suas peças haviam passado a ser sumariamente proibidas pela censura. Escrevendo inicialmente para o programa de teleteatro de Bibi Ferreira (Bibi – Série Especial), na Tupi do Rio de Janeiro, Vianna (juntamente com seu ex-companheiro do CPC, Armando Costa) passa, em 1973, a criar, na TV Globo, os roteiros de A Grande Família, programa em que o talento de comediógrafo herdado de seu pai, Oduvaldo Vianna, se fez sentir.


A censura impediu que a grande maioria das peças que Vianna escrevera após o golpe fossem encenadas, mesmo que tivessem sido premiadas pelo concurso de dramaturgia do Serviço Nacional de Teatro, como Papa Highirte (1968) e Rasga coração (1974), seu último trabalho.