autor(a): Eugène Ionesco; tradutor(a): Marina Bento Veshagem; posfácio: Marie-Claude Hubert

Macbett


Releitura de "Macbeth", de William Shakespeare, "Macbett" traz o tema do assassinato em nova escala, dando lugar aos homicídios em massa e à violência, que se expande para além dos palcos.

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O livro

FICHA TÉCNICA

Gênero teatro
Formato 14 x 19 cm
Peso 170 g
ISBN 9786587243283

Macbeth, célebre peça de William Shakespeare do início do século 17, narra a história de um regicídio cometido pelo personagem que lhe dá nome, ao ser persuadido por três feiticeiras de que seu destino seria tornar-se rei. É esse, também, o enredo que forma a linha principal Macbett, releitura que Eugène Ionesco faz da obra shakespeariana. Escrita mais de três séculos depois, esta não poderia deixar de trazer indícios dos novos tempos. O tema do assassinato, por exemplo, ganha nova escala, dando lugar aos homicídios em massa - o que era familiar àqueles que presenciaram o horror da Segunda Guerra Mundial ou viveram sob regimes totalitários.

O soberano Duncan, bem como os demais personagens de Macbett, é movido pelo fetiche do poder, alcançado através dos consequentes massacres em massa que perpetuam. Na peça de Ionesco, a violência não se encerra em si mesma; pelo contrário, ela se expande e ultrapassa o palco ao encontrar ressonâncias com o contexto de escrita do autor.

De um total de 39 textos teatrais, Macbett, seu 36º texto, caminha ao lado das demais peças de Ionesco, rotuladas por ele próprio como “antiteatro”, uma expressão evidente de suas críticas à dramaturgia convencional, aproximando-se do que se convencionou, a partir de Martin Esslin, como Teatro do Absurdo. O tema da linguagem como impossibilidade está no cerne deste texto, que compartilha espaço com um aspecto fundamental da poética de Ionesco: a representação do vazio no palco, que ele descreve como uma “máquina de esmiuçar o vazio”.

Por que ler a peça?

São mais de cinquenta anos que nos distanciam da escrita de Macbett e suas temáticas continuam fortemente atuais em nosso contexto. Não é preciso esforço, por exemplo, para encontrarmos governos autoritários, que agem violentamente em busca de concentração de poder e promovem, consequentemente, genocídios e outros crimes contra as suas populações.

Eugène Ionesco se empenhou em colocar em cena um aspecto que encarava como crucial na dramaturgia, qual seja: o teatro é uma arte de efeitos amplificados; tudo o que está em cena deve ser levado ao extremo. Assim, a sua obra é permeada por um teatro de violência: “violentamente cômico, violentamente dramático”, como o próprio autor declara em 1962, no livro Notes et Contre-notes.

Por dentro da edição da Temporal

  • Tradução e prefácio de Marina Bento Veshagem
  • Macbett 
  • Posfácio de Marie-Claude Hubert
  • Fichas técnicas das apresentações
  • Sugestões de leitura
  • Fotografias da montagem francesa de 1992
© Creative Commons.  ETH-Bibliothek Zürich, Bildarchiv/Fotograf: Metzger, Jack

"[...] em Macbett a linguagem como impossibilidade continua sendo uma questão central para o autor. Porém, ao contrário daqueles textos ["A cantora careca" e "A lição"], marcados historicamente pelos espólios da Segunda Guerra Mundial e que encenam experimento com a linguagem (apresentada como banal e cotidiana, ou transformada em objeto físico etc.), esta peça pode ser vista como o drama da busca pela experiência do vazio no espaço da cena."

— A tradutora Marina Bento Veshagem em prefácio sobre Macbett
© Creative Commons/The Regents of the University of California/Photographer: Gunderson, Judd / Los Angeles Times

Sobre o autor

Eugène Ionesco, nascido em 26 de novembro de 1909 em Slatina, Romênia, foi um notável dramaturgo com raízes culturais duplas, tendo passado grande parte de sua infância em Paris. Em 1929, ingressa na Universidade de Bucareste, onde estuda filologia moderna e inicia sua carreira como professor de língua francesa. Aos 27 anos, Ionesco se casa com Rodica Burileanu, com quem tem uma filha, Marie-France Ionesco, inspiração para muitas de suas histórias infantis não convencionais.

Em 1938, antes do início da Segunda Guerra Mundial, mudam-se para Paris, onde Ionesco obtém uma bolsa de estudos do governo francês para pesquisar a poesia de Baudelaire. No entanto, com a guerra iminente, o casal retorna a Bucareste, onde o autor passa a trabalhar como funcionário da administração romena durante o governo de Vichy. Após o término da guerra, a família retorna a Paris e Ionesco se torna revisor em uma casa editorial.

Somente aos 40 anos, em 1949, Ionesco escreveu sua primeira peça, A cantora careca, inaugurando uma série de textos que o associaram ao Teatro do Absurdo, juntamente com Samuel Beckett. Nas décadas de 1950 e 1960, o autor produz uma série de peças curtas e obras notáveis, como A lição (1950), As cadeiras (1951), Vítimas do dever (1952) e O rinoceronte (1959), que se tornou um clássico. Ao longo de sua carreira, Ionesco escreve 39 peças teatrais, tendo também se dedicado à escrita de diários íntimos, ensaios, literatura infantil, desenho e pintura. Ionesco foi eleito membro da Academia Francesa de Letras em 1970 e faleceu em 28 de março de 1994, deixando um grande legado à literatura e ao teatro.