Nos derradeiros anos da ditadura civil-militar brasileira, uma família de artistas se reúne em sua casa de praia, antiga fazenda colonial na região de Paraty, litoral fluminense, por ocasião do aniversário de Antonio, estudante de medicina que deseja seguir a carreira dos pais – a atriz Teresa, que vive crise em sua carreira, e o cineasta Jonas, que, apesar de respeitado entre seus pares do Cinema Novo, não produziu obra de sucesso. Ao lado de agregados e empregados, os personagens se encontram na iminência de uma crise familiar, que se acentua em meio a discursos inflamados, discussões e acusações.
Escrita em 2018, em comemoração aos vinte anos da Companhia do Latão, Lugar nenhum inspira-se nos diários de trabalho e nas obras de Anton Tchékhov. À maneira de uma peça-ensaio, são exploradas as contradições e a paralisia de parte da intelectualidade brasileira frente às mudanças históricas que o país então vivia no fim da década de 1960. A aparência apática dos personagens é traço central que revela os entraves ideológicos entre arte, política e classe social.
A partir do modelo do autor russo, a peça propõe uma reflexão atual sobre aspectos que acompanham a sociedade brasileira desde o período colonial: a exploração do trabalho, o racismo, a violência institucional, entre outros elementos que culminam nas práticas naturalizadas de extermínio das populações periféricas, negras e indígenas no país.
Esta edição possui Apresentação de Sérgio de Carvalho, Posfácio de Maria Rita Kehl e Notas sobre o processo de Helena Albergaria, além de fotografias da montagem realizada no CCBB-RJ. Ainda, a publicação reúne, na seção Anexos, a Ficha técnica da estreia, as Partituras das canções compostas pela companhia para a peça e Sugestões de estudo para o leitor interessado dar continuidade a pesquisas relacionadas.