Logo na abertura da primeira cena da épica derradeira de Oduvaldo Vianna Filho, Rasga coração (1974), o coro entoa a valsa romântica que deu título à obra: “Rasga o coração”, de Anacleto de Medeiros com letra de Catulo da Paixão Cearense. Enquanto personagens entram em cena, sob focos diferentes de luzes, as músicas se mesclam e dá-se início à ação. Ainda na sequência, o personagem Castro Cott canta o hino integralista de Plínio Salgado, agora sob um foco de luz usado para indicar acontecimentos do passado. Assim, logo na primeira página, já se pode notar o destaque que as citações musicais ganham na peça, o que perdurará até o cair do pano.
Estendendo-se por um período de mais de setenta anos de passado brasileiro, as cenas de Rasga coração intercalam-se com diversas canções: marchinhas de carnaval, pregões de vendedores ambulantes e paródias populares, mas também tangos argentinos, valsas românticas e hinos políticos. Somadas ao mecanismo das luzes e do efeito de flashback, essas músicas, que marcaram épocas, pessoas e situações políticas embalam o leitor e o expectador
Se fica fácil para o leitor de hoje cantar com os personagens algumas delas, como “Fascinação” ou “Luar do sertão”, outras podem permanecer incógnitas, afinal, antes de ler Rasga coração, poucos podem imaginar que no início dos anos 1900 vendedores ambulantes anunciavam pelas ruas versos parecidos com “Rato, rato, rato”. O próprio Vianna pesquisou durante mais de um ano, na Biblioteca Nacional, pelos periódicos do Rio de Janeiro, as canções, sucessos de carnaval, compositores, cantores, paródias e outros registros compilados no Dossiê de pesquisa para que pudesse finalizar a peça.
Diante dessa riqueza musical, a Temporal reuniu nesta playlist todas as 21 músicas citadas na obra.